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Publicado em 12 de junho de 2025 às 05:00
Santo Antônio de Pádua é, talvez, o santo mais amado do Brasil. Mas, antes de se tornar padroeiro dos corações apaixonados e das causas difíceis, foi o grande pregador, o doutor das Escrituras, o defensor dos pobres e o distribuidor de pão. Sua devoção chegou ao Brasil pelos colonizadores portugueses e encontrou terreno fértil na Bahia, onde se enraizou profundamente. >
Antes mesmo de São Francisco Xavier ser proclamado padroeiro oficial de Salvador, era Santo Antônio quem a protegia. Sua presença se fez forte com os franciscanos e atravessou os séculos nos altares, nas festas, nas igrejas e nos lares. Em Salvador, sua imagem permanece viva em templos como o recém elevado Santuário de Santo Antônio Além do Carmo, símbolo de fé e resistência da religiosidade popular.>
Santo Antônio é lembrado por suas virtudes: era pregador eloquente, defensor dos pobres e dos injustiçados. Foi capaz de converter multidões com palavras e gestos. Conta-se que ele pregou aos peixes quando os homens se recusaram a ouvi-lo. Que fez uma mula se ajoelhar diante do Santíssimo. Que distribuiu pão aos famintos e restituiu dignidade a moças sem dote para o casamento. É por isso que ele não é apenas o santo casamenteiro — é o santo da justiça, da caridade e da palavra.>
Sua imagem, amplamente reconhecida, traz símbolos profundos. Santo Antônio costuma ser retratado com o Menino Jesus nos braços, recordando uma visão mística que teve em oração, quando o próprio Cristo apareceu para ele em forma de criança. O lírio branco que segura representa sua pureza e vida consagrada, e o livro, geralmente nas mãos ou aos pés, simboliza sua sabedoria teológica e amor pelas Escrituras. Um doutor da Igreja. Muitas vezes, há também um pão próximo a ele, lembrando sua atenção aos mais pobres e a tradição do “Pão de Santo Antônio”.>
Na Bahia, a sua devoção é tradição que mistura fé e cultura. E no meu caso, essa fé sempre foi muito próxima, quase doméstica. Minha bisavó, Dindinha Filó, fundadora do povoado de Boa Vista, em Conceição do Coité, escolheu Santo Antônio como padroeiro da comunidade. Cresci cercado por sua imagem, suas trezenas e ladainhas. A cada ano, minha família reacende a chama dessa fé com a fogueira na noite da véspera do dia 12 de junho — um momento de encontro, oração, alegria e resistência cultural. E da missa com a procissão do andor no próprio dia 13.>
Essa devoção me marcou tanto que atravessou o oceano. Já fui à igreja dedicada ao santo, onde nasceu, em Lisboa, e também a Pádua, na Itália, onde repousam seus restos mortais. A Basílica de Santo Antônio, majestosa e silenciosa, guarda um santuário de fé que comove. Ver de perto o túmulo do santo, a relíquia de sua língua — ainda intacta, símbolo da força de sua pregação — foi uma experiência que selou ainda mais minha ligação com ele.>
Santo Antônio não é só memória. É presença viva. Nas casas, nas igrejas, nas rezas, nas músicas - “o que seria de mim, meu Deus, sem a fé em Antônio?” -, nas promessas das avós, na fé dos jovens. É o santo que ensina, protege com firmeza e nos relembra que, entre o pão do corpo e o da alma, há sempre espaço para a esperança. E enquanto houver uma fogueira acesa, sua luz continuará guiando gerações.>
Victor Pinto é jornalista e advogado, é apresentador da Band Bahia e da rádio Excelsior, membro da Devoção ao Senhor do Bonfim e devoto de Santo Antônio.>